quarta-feira, 4 de abril de 2018

Ardeu o Judas, libertou-se a Primavera!

Sábado 31 de Março 2018

22h30 - Início do espetáculo - Parque Urbano João Paulo II
00h00 - Leitura do Testamento e Queima do Judas

Fotografia: Margarida Ribeiro






















terça-feira, 3 de abril de 2018

Festa de encerramento da Queima do Judas 2018

01h00 - Festa de encerramento - Ohxalá (dj set) - Capital dos Petiscos, Praça José Régio

Fotografia: Margarida Ribeiro



Testamento do Judas 2018

Minha gente, eu sou a água,
Que vos deixo, Cidadéxes, na consciência
Mais humanidade e menos ciência.
Que escuteis mais os pensadores
E menos os coachers e os gestores.
Deixo-vos mais olhares e mais abraços,
Menos rios, menos cristas e menos passos

Minha gente, eu sou a água,
Que vos deixo, naturais da Irauga, alguma sensatez,
Que olheis por vós abaixo, por uma vez,
Deixai-vos de obediência e idolatria,
Vivei com alegria, sede gente mais vadia.
Há mais vida para além da Musa,
Dai bom uso, naturais, à vossa tusa.

Minha gente, eu sou a água,
Inodora, insípida e incolor.
A vós, povo, deixo bem-estar, nunca dor.
Sou fonte de vida e de muita especulação
Pois pouco falta para a minha privatização.
Pensais que é tanga minha, não é?
Ide saber o que anda a fazer a Nestlé.

Minha gente, eu sou a água,
Sou o negócio do futuro,
É que já nada neste mundo está puro,
Sejam batatas ou milho transgénico
Ou a carne carregada de arsénico.
Acordai povo, depende das vossas andanças
O futuro das vossas crianças.

Minha gente, eu sou a água
Que podia apagar os incêndios deste Verão,
Não houvesse tanto loby e corrupção
E maus sistemas e tantos cortes
Que resultaram em mais de 100 mortes.
Obrigada pelo carinho, presidente,
Mas nós queremos é uma política diferente.

Minha gente, eu sou água
Que a todos quer fazer feliz.
Sou das mais caras do país
Nesta espraiada terra do aqueduto
Onde outrora mandava um bruto
E agora reina a falsa e podre paz,
De alguém cujo nome não dirás.

Minha gente, eu sou a água
Que transportei caravelas e naus
(Havia aqueles que eram bons mas agora são maus.)
Mas enfim, nestas coisas é normal o ciúme,
É sempre aquela azáfama do costume,
Não são tragédias, não é nada de novo,
Os políticos são o espelho do seu povo.

Minha gente, eu sou a água,
Que banha as margens daquele concelho
Que finalmente se livrou do velho!
Ó, que valorosa gente sois, vileiros,
Rasgastes as cartinhas desses engenheiros.
A vós deixo coragem a cachos,
Mudaram as gentes mas continuam os tachos.

Minha gente, eu sou a água,
E vos deixo a todos um jornal onde
Só se fala de Vila do Conde
E do bom e belo que aqui acontece.
E que é dobrado na sede do PS.
E onde dantes se liam elogios,
Agora se lêem as vinganças dos compadrios.

Minha gente, eu sou a água,
E vos deixo um alerta hospitalar:
É que esta terra de rio e mar
Já não nem tem um hospital.
Assim quem estiver doente e mal
Ou há-de ir para o Hospital do Bonfim
Ou pior, para o da Póvoa de Varzim.

Minha gente, eu sou a água,
E vos digo para que saibais,
Que andam para aí uns que tais,
Que querem criar um conflito profundo
Entre a Queima do Judas e o Porto Para o Mundo.
Dizem que de um lado há um brasileiro com pasta
E do outro, há um caxineiro de rasta.

Minha gente, eu sou a água,
E vos deixo, comunidade,
Uma ideia de liberdade.
Um sonho onde todos têm lugar,
Onde cabe o vanguardista e o popular
Onde, juntos, nos rimos das vitórias e dos fails
E não sabemos da verdade pelos e-mails.

Minha gente, eu sou a água,
Que enche a Nuvem Voadora
De uma força redentora
Que anualmente nos presenteia
Com esta celebração plebeia
Da comunidade organizada
Em torno desta queimada.

Minha gente, eu sou a água,
E vos ordeno a todos sem excepção
Que tomeis alguém pela mão,
Queimem-se os Judas traiçoeiros,
(Não se preocupem, estão aqui os bombeiros!)
E dançai, soltai a vossa fera,
Acabou o Inverno. É o tempo da Primavera!