Minha gente, eu sou a água,
Que vos deixo, Cidadéxes, na
consciência
Mais humanidade e menos
ciência.
Que escuteis mais os
pensadores
E menos os coachers e os
gestores.
Deixo-vos mais olhares e mais
abraços,
Menos rios, menos cristas e
menos passos
Minha gente, eu sou a água,
Que vos deixo, naturais da
Irauga, alguma sensatez,
Que olheis por vós abaixo, por
uma vez,
Deixai-vos de obediência e
idolatria,
Vivei com alegria, sede gente
mais vadia.
Há mais vida para além da Musa,
Dai bom uso, naturais, à vossa
tusa.
Minha gente, eu sou a água,
Inodora, insípida e incolor.
A vós, povo, deixo bem-estar,
nunca dor.
Sou fonte de vida e de muita
especulação
Pois pouco falta para a minha
privatização.
Pensais que é tanga minha, não
é?
Ide saber o que anda a fazer a
Nestlé.
Minha gente, eu sou a água,
Sou o negócio do futuro,
É que já nada neste mundo está
puro,
Sejam batatas ou milho
transgénico
Ou a carne carregada de
arsénico.
Acordai povo, depende das
vossas andanças
O futuro das vossas crianças.
Minha gente, eu sou a água
Que podia apagar os incêndios
deste Verão,
Não houvesse tanto loby e
corrupção
E maus sistemas e tantos
cortes
Que resultaram em mais de 100
mortes.
Obrigada pelo carinho,
presidente,
Mas nós queremos é uma
política diferente.
Minha gente, eu sou água
Que a todos quer fazer feliz.
Sou das mais caras do país
Nesta espraiada terra do
aqueduto
Onde outrora mandava um bruto
E agora reina a falsa e podre
paz,
De alguém cujo nome não dirás.
Minha gente, eu sou a água
Que transportei caravelas e
naus
(Havia aqueles que eram bons
mas agora são maus.)
Mas enfim, nestas coisas é
normal o ciúme,
É sempre aquela azáfama do
costume,
Não são tragédias, não é nada
de novo,
Os políticos são o espelho do
seu povo.
Minha gente, eu sou a água,
Que banha as margens daquele
concelho
Que finalmente se livrou do
velho!
Ó, que valorosa gente sois,
vileiros,
Rasgastes as cartinhas desses
engenheiros.
A vós deixo coragem a cachos,
Mudaram as gentes mas
continuam os tachos.
Minha gente, eu sou a água,
E vos deixo a todos um jornal
onde
Só se fala de Vila do Conde
E do bom e belo que aqui
acontece.
E que é dobrado na sede do PS.
E onde dantes se liam elogios,
Agora se lêem as vinganças dos
compadrios.
Minha gente, eu sou a água,
E vos deixo um alerta
hospitalar:
É que esta terra de rio e mar
Já não nem tem um hospital.
Assim quem estiver doente e
mal
Ou há-de ir para o Hospital do
Bonfim
Ou pior, para o da Póvoa de
Varzim.
Minha gente, eu sou a água,
E vos digo para que saibais,
Que andam para aí uns que tais,
Que querem criar um conflito
profundo
Entre a Queima do Judas e o
Porto Para o Mundo.
Dizem que de um lado há um
brasileiro com pasta
E do outro, há um caxineiro de
rasta.
Minha gente, eu sou a água,
E vos deixo, comunidade,
Uma ideia de liberdade.
Um sonho onde todos têm lugar,
Onde cabe o vanguardista e o
popular
Onde, juntos, nos rimos das
vitórias e dos fails
E não sabemos da verdade pelos
e-mails.
Minha gente, eu sou a água,
Que enche a Nuvem Voadora
De uma força redentora
Que anualmente nos presenteia
Com esta celebração plebeia
Da comunidade organizada
Em torno desta queimada.
Minha gente, eu sou a água,
E vos ordeno a todos sem
excepção
Que tomeis alguém pela mão,
Queimem-se os Judas
traiçoeiros,
(Não se preocupem, estão aqui
os bombeiros!)
E dançai, soltai a vossa fera,
Acabou o Inverno. É o tempo da
Primavera!